domingo, 11 de julho de 2010

Vale a pena ver de novo?

O poeta Quintana uma vez nos disse assim:

“Das Ilusões

Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!”

Será?
Nada mais ocupa tanto nossos pensamentos do que uma relação amorosa. Sabemos disso sem precisar ir muito longe. É só lembrar quais são os assuntos privilegiados nos bares, nos lares, nos consultórios e nas cartomantes ou dar uma espiada nos livros de auto-ajuda ou nas revistas, para constatar o quanto essa temática é contemplada. Quem é da área psi ou tem afinidade com ela, já percebeu que as relações afetivas e as suas representações comportam a fatia mais generosa da vida. Basta ouvir durante algumas semanas as queixas de nossos pacientes para afirmar com propriedade que o problema, quando decantado, gira em torno das tramas amorosas. Quando falo de amor, quero deixar claro aqui que estou me referindo ao amor romântico. Um tipo específico de amor que arrebata e fascina suas vítimas, propondo-se a preencher o vazio constitutivo da falta de sentido da existência. Um amor pueril e vigoroso que promete curar feridas, nos deixar em estado de graça, trazer paz e emoção – até onde sei inconciliáveis – e, vejam só, promete ainda nos levar à plenitude das satisfações – até onde sei inatingíveis. Essa qualidade de amor consome noites de sono de seus amantes e amados, que por sua vez consomem consultas, antidepressivos e calmantes. Seguindo essa linha de raciocínio, então quer dizer que o amor romântico promete aquilo que não pode cumprir, iludindo-nos como bobos? E por que diabos embarcamos uma, duas, inúmeras vezes no seu discurso? Por que não ouvimos o poeta gaúcho e desistimos? Ah, já sei, por que existiu um outro poeta, bem mais popular que o meu conterrâneo, que nasceu mais tarde e partiu mais cedo e que acreditava nas insígnias desse amor. Aliás, esse poeta viveu e morreu de amor, coroando o amor romântico com as mais belas poesias, esteja este amor mentindo ou não. Além de fazer do amor sua prática, nosso poeta e diplomata ofereceu-nos alguns conselhos. Conselhos não, conselhos são para quem não tem certeza do que diz e Vinicius não tinha dúvidas. Seguramente, com uma sabedoria ancestral e ao mesmo tempo juvenil, Vinicius afirma convicto que quem deserta do amor ou se exila do seu logro ainda vai pagar caro por isso. Na dúvida, vale a pena conferir seus oráculos!

“Testamento

...você que não gosta de gostar,
para não sofrer, não sorrir e não chorar,
você vai ver um dia
em que fria você vai entrar!
Por cima uma laje, embaixo a escuridão,
É fogo, irmão! É fogo, irmão!”

“Como dizia o poeta

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ter mais, mas sabe menos do que eu,
Porque a vida só se dá para quem se deu,
Prá quem amou, prá quem chorou, prá quem sofreu.
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada não...
... Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão.”

5 comentários:

  1. De bom e de ruim o amor tem demais...mas o que seria de nós sem amor? As vezes é bom estar só...as vezes é bom estar com alguem, só o nosso coração sabe o que é melhor para cada momento, e nem sempre temos controle sobre ele! Bjs

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  2. Val, você tem sorte! "nem sempre" é um alento... no meu caso sempre foi "NUNCA!!!".E ainda assim, insisti, não desisti. Valeu. O privilégio do encontro natural dos pares é presente apenas para quem tem medo, mas vai! Charles Chaplin disse: "Quem vive com medo, vive pela metade." Quem não arrisca, não corre o risco de ser feliz, ainda que em momentos aqui e ali. Chato, né? E se não der, um porre entre amigos acolhedores ajuda muito...
    Me perdoem o tamanho do post, mas não deu prá deixar de fora a última composição brilhante do Lenine sobre o assunto:

    AQUILO QUE DÁ NO CORAÇÃO

    Aquilo que dá no coração
    E nos joga nessa sinuca
    Que faz perder o ar e a razão
    E arrepia o pêlo da nuca
    Aquilo reage em cadeia
    Incendeia o corpo inteiro
    Faísca, risca, trisca, arrodeia
    Dispara o rito certeiro

    Avassalador
    Chega sem avisar
    Toma de assalto, atropela
    Vela de incendiar
    Arrebatador
    Vem de qualquer lugar
    Chega, nem pede licença
    Avança sem ponderar

    Aquilo bate, ilumina
    Invade a retina
    Retém no olhar
    O lance que laça na hora
    Aqui e agora,
    Futuro não há
    Aquilo se pega de jeito
    Te dá um sacode
    Pra lá de além
    O mundo muda, estremece
    O caos acontece
    Não poupa ninguém

    Avassalador...

    Avassalador
    Chega sem avisar
    Arrebatador
    Vem de qualquer lugar
    Aquilo que dá no coração
    Que faz perder o ar e a razão
    Aquilo reage em cadeia
    Incendeia

    Dani Sabino

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  3. concordo com o Quintana embora siga os conselhos do Vinicius,me atiro em queda livre, o que vier eh lucro!!!

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  4. Não desistimos porque estamos vivos (ainda), e assim como Sífiso, rei de Corinto, segundo a lenda grega, cumprimos a maldição que nos cabe. Sífiso, tendo escapado do inferno, como castigo pela fuga foi condenado a empurrar uma pedra até o alto da montanha. Quando terminava o trabalho, a pedra despencava morro abaixo e Sísifo era obrigado a recomeçar.

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  5. Porque é bom...e por mais nada. Nenhum deles deixa de ter razão, mas razão é coisa que não se pode querer ter, se quiser amar...nénão?

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