O poeta Quintana uma vez nos disse assim:
“Das Ilusões
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!”
Será?
Nada mais ocupa tanto nossos pensamentos do que uma relação amorosa. Sabemos disso sem precisar ir muito longe. É só lembrar quais são os assuntos privilegiados nos bares, nos lares, nos consultórios e nas cartomantes ou dar uma espiada nos livros de auto-ajuda ou nas revistas, para constatar o quanto essa temática é contemplada. Quem é da área psi ou tem afinidade com ela, já percebeu que as relações afetivas e as suas representações comportam a fatia mais generosa da vida. Basta ouvir durante algumas semanas as queixas de nossos pacientes para afirmar com propriedade que o problema, quando decantado, gira em torno das tramas amorosas. Quando falo de amor, quero deixar claro aqui que estou me referindo ao amor romântico. Um tipo específico de amor que arrebata e fascina suas vítimas, propondo-se a preencher o vazio constitutivo da falta de sentido da existência. Um amor pueril e vigoroso que promete curar feridas, nos deixar em estado de graça, trazer paz e emoção – até onde sei inconciliáveis – e, vejam só, promete ainda nos levar à plenitude das satisfações – até onde sei inatingíveis. Essa qualidade de amor consome noites de sono de seus amantes e amados, que por sua vez consomem consultas, antidepressivos e calmantes. Seguindo essa linha de raciocínio, então quer dizer que o amor romântico promete aquilo que não pode cumprir, iludindo-nos como bobos? E por que diabos embarcamos uma, duas, inúmeras vezes no seu discurso? Por que não ouvimos o poeta gaúcho e desistimos? Ah, já sei, por que existiu um outro poeta, bem mais popular que o meu conterrâneo, que nasceu mais tarde e partiu mais cedo e que acreditava nas insígnias desse amor. Aliás, esse poeta viveu e morreu de amor, coroando o amor romântico com as mais belas poesias, esteja este amor mentindo ou não. Além de fazer do amor sua prática, nosso poeta e diplomata ofereceu-nos alguns conselhos. Conselhos não, conselhos são para quem não tem certeza do que diz e Vinicius não tinha dúvidas. Seguramente, com uma sabedoria ancestral e ao mesmo tempo juvenil, Vinicius afirma convicto que quem deserta do amor ou se exila do seu logro ainda vai pagar caro por isso. Na dúvida, vale a pena conferir seus oráculos!
“Testamento
...você que não gosta de gostar,
para não sofrer, não sorrir e não chorar,
você vai ver um dia
em que fria você vai entrar!
Por cima uma laje, embaixo a escuridão,
É fogo, irmão! É fogo, irmão!”
“Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ter mais, mas sabe menos do que eu,
Porque a vida só se dá para quem se deu,
Prá quem amou, prá quem chorou, prá quem sofreu.
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada não...
... Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão.”
De bom e de ruim o amor tem demais...mas o que seria de nós sem amor? As vezes é bom estar só...as vezes é bom estar com alguem, só o nosso coração sabe o que é melhor para cada momento, e nem sempre temos controle sobre ele! Bjs
ResponderExcluirVal, você tem sorte! "nem sempre" é um alento... no meu caso sempre foi "NUNCA!!!".E ainda assim, insisti, não desisti. Valeu. O privilégio do encontro natural dos pares é presente apenas para quem tem medo, mas vai! Charles Chaplin disse: "Quem vive com medo, vive pela metade." Quem não arrisca, não corre o risco de ser feliz, ainda que em momentos aqui e ali. Chato, né? E se não der, um porre entre amigos acolhedores ajuda muito...
ResponderExcluirMe perdoem o tamanho do post, mas não deu prá deixar de fora a última composição brilhante do Lenine sobre o assunto:
AQUILO QUE DÁ NO CORAÇÃO
Aquilo que dá no coração
E nos joga nessa sinuca
Que faz perder o ar e a razão
E arrepia o pêlo da nuca
Aquilo reage em cadeia
Incendeia o corpo inteiro
Faísca, risca, trisca, arrodeia
Dispara o rito certeiro
Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Chega, nem pede licença
Avança sem ponderar
Aquilo bate, ilumina
Invade a retina
Retém no olhar
O lance que laça na hora
Aqui e agora,
Futuro não há
Aquilo se pega de jeito
Te dá um sacode
Pra lá de além
O mundo muda, estremece
O caos acontece
Não poupa ninguém
Avassalador...
Avassalador
Chega sem avisar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Aquilo que dá no coração
Que faz perder o ar e a razão
Aquilo reage em cadeia
Incendeia
Dani Sabino
concordo com o Quintana embora siga os conselhos do Vinicius,me atiro em queda livre, o que vier eh lucro!!!
ResponderExcluirNão desistimos porque estamos vivos (ainda), e assim como Sífiso, rei de Corinto, segundo a lenda grega, cumprimos a maldição que nos cabe. Sífiso, tendo escapado do inferno, como castigo pela fuga foi condenado a empurrar uma pedra até o alto da montanha. Quando terminava o trabalho, a pedra despencava morro abaixo e Sísifo era obrigado a recomeçar.
ResponderExcluirPorque é bom...e por mais nada. Nenhum deles deixa de ter razão, mas razão é coisa que não se pode querer ter, se quiser amar...nénão?
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