segunda-feira, 5 de julho de 2010

Insônia boa, insônia má


Chico Buarque, um dia, ao se referir ao tema, ousou dividi-la em duas: a insônia boa e a insônia burra. Inevitável não pensar em seio bom/seio mau, mas deixemos isso para os bebês de Klein. Em sua “humilde” opinião - Chico é devoto desse adjetivo e isso, diga-se de passagem, é só para quem pode – bom, continuando, a insônia boa, para o meu ídolo, é aquela de onde brota uma alegoria de idéias brilhantes ou soluções criativas, seja para uma palavra ou para uma nota que falta em uma canção ou simplesmente para ficar brincando com os pensamentos. Ainda, a insônia boa é também aquela que não te deixa dormir, com a singela intenção de não permitir que percas o contato com uma instigante inquietude da alma. Mas vale lembrar que essa falta de sossego, a qual Chico nomeia de bendito tormento, pertence à mesma categoria de insônia: é boa. Agora, vamos falar da insônia burra. Com essa espécie Chico não é nada condescendente, porque, muito indignado, reitera que ela é burra mesmo. “Esta última é quando, mesmo cansado, deita e não sabe mais como se dorme. Como se tivesse esquecido. É a insônia da angústia, da aflição, do cineminha incessante passando na cabeça, voltando com imagens incômodas... é a insônia improdutiva, estéril.” Compreendo literalmente o que Chico diz, pois compartilho dos dois tipos e a última realmente é uma tortura. É preciso fazer matrícula para se aprender como se dorme. Começa mais ou menos assim: deite numa posição confortável, feche os olhos, respire. É isso mesmo que você leu: feche os olhos e respire! Isso não é incrível? Calma, que isso não é tudo. Depois vem a melhor parte, o imperativo categórico: não pense em nada, absolutamente nada, nadinha mesmo. Facinho né? Feito tudo direitinho, o sono, que mais parece um prêmio acumulado da loteria, promete te encontrar para viver com você uma noite inesquecível... inesquecível? Sim, até a sua próxima noite de insônia burra ou boa. Qual era a diferença mesmo?

2 comentários:

  1. Lendo esse texto, debochadamente bem humorado, a insônia, coisa que vim conhecer há bem pouco tempo, até parece agradável: a boa vira ótima, quando berço para o nascimento de boas ideias e a burra acaba ficando boa, por cumprir seu papel ao ajudar a identificar uma e outra! O fato é que, insônia, boa ou má, não é o problema, o problema é ter que cumprir os protocolos chatos da vida, inevitavelmente, no dia seguinte! Ou tem coisa melhor do que pegar no sono com o dia clareando e não ter hora prá acordar... depois de uma longa insônia de qualquer uma das categorias definidas tão poeticamente aqui?
    Dani Sabino

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  2. Agora me conta que se aquele "conselho" do meu marido funcionou ou não...rsrs

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