Numa conversa prosaica sobre poesia, uma amiga me falou que ouviu de uma outra amiga uma observação curiosa. Esta última falando sobre poesia com o namorado fez a seguinte asserção: “o que você quiser saber sobre a vida está em “Tabacaria”, tá tudo lá.”
Não preciso nem dizer da sede que tive de chegar em casa para pegar os meus Pessoas. Agarrei-me aos livros com todos os sentidos aguçados. Uma pueril emoção se instaurou em mim ao ler a palavra “Tabacaria” ainda no índice. O engraçado é que li este poema mais de uma vez e até cheguei a articular algumas de suas estrofes com a psicanálise. Mas daí a uma pessoa ter a intrepidez de afirmar que “tudo” que você quiser saber sobre a vida está lá...
... e não é que tá mesmo!
Neste momento, você que, conheça "Tabacaria" ou não, goste de Pessoa ou não, deve estar louco para chegar em casa, ou numa livraria, ou num computador só para conferir o axioma proposto por essa pessoa que nem conheço, e que me agraciou com seu dito.
Separei uma estrofe só para dar água na boca. Não, na boca não. A água que vai dar é nos olhos.
“Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara.
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.”
Álvaro de Campos em 15/01/1928
E durma-se com um barulho desses...
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