terça-feira, 3 de agosto de 2010

A casa de Freud


Foi nesta casa que Freud passou o seu último ano de vida – de 27 de setembro de 1938 a 23 de setembro de 1939. Como dá para ver, é uma belíssima e imponente casa na elegante rua Maresfield Garden de número 20 em Londres. Acontece que a casa da rua Berggasse em Viena, onde Freud viveu e atendeu seus pacientes por quarenta e sete anos, teve que ser deixada por ele e sua família à revelia. Freud resistiu bastante tempo à perseguição nazista quando comparado com seus colegas sionistas. Muitos psicanalistas judeus já tinham começado a debandar em 1933, quando tiveram seus trabalhos publicamente queimados na Alemanha. Freud se recusava a fugir, mas quando a Áustria foi anexada à Alemanha ele não viu outra saída. Chegou em Londres em 06 de junho de 1938 e alugou uma outra casa até se mudar para esta. Depois de sua morte, aos 83 anos, a casa continuou sendo ocupada pelos seus familiares. Anna Freud morreu em 1982 e, a seu pedido, a morada do pai da psicanálise e também seu pai foi transformada em um museu e aberto ao público em julho de 1986 - todos os objetos estão irretocavelmente conservados: livros, quadros, divã, poltrona, cinzeiro, tapetes. Durante esse período Freud estava indignamente doente; o câncer em seu palato, que havia começado há dezesseis anos, o castigava sem dó nem piedade, infligindo-lhe mal-estar constante e lancinante dor. Martha, sua mulher, Anna, Minna Bernays, sua cunhada querida, com quem ele tinha mais afinidades do que com sua mulher, e a governanta Paula Fichtl acompanharam Freud no martírio de sua doença. Intrépido diante de seu calvário, Freud submeteu-se a dezenove cirurgias empíricas e ineficazes, intercaladas por inócuas sessões de radioterapia, sem interromper sua produção intelectual. Foi sob essas condições que Freud escreveu uma de suas obras mais importantes: “Moisés e o Monoteísmo”. Além deste, Freud deixou inacabado “Outline of Psychoanalysis “. No mesmo ritmo em que escrevia seus trabalhos, recebia seus pacientes. Os pacientes de Freud sofriam as dores da subjetividade. Freud sofria o suplício de sua doença e as agruras da guerra, que numa dessas, levou uma de suas filhas. Sua família, especialmente Anna, admiradora e propagadora incondicional dos fundamentos teóricos do pai, sofria a iminência de sua morte. O “mal-estar na civilização” estava literalmente declarado. Freud sofria na carne a dor que seus pacientes referiam sentir na alma e na alma a dor de tudo isso junto. Lutou bravamente contra a miséria e a mediocridade humanas até seus últimos dias. O seu legado, tão coerente entre teoria e prática, pede, no mínimo, que tenhamos coragem.

8 comentários:

  1. como vc se diz psicanalist e professora de portugues e ingles? são coisas são divergentes..
    quando e é tudo, não se é nada...

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  2. Pelos textos percebe-se o quanto é prejudicial a autora do blog ter bom conhecimento em literatura,língua portuguesa e inglesa. Em função disto somos obrigados a ler textos bem escritos, com contribuições da arte e da literatura. Não deve ser fácil compreender e aceitar tamanha divergência...

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  3. O problema não é aceitar tamanha divergência e sim aceitar tantos que são ou se acham, médicos, psicanalistas, psicólogos e brincam de faz de conta com as pessoas...o importante é a arte, os textos bem escritos sim por pessoas que saibam fazer isso e somente isso...

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  4. Ser ou achar-se? O que me surpreende nos blogs é a imposição do anônimo; poucas, raras e na maioria das vezes insensatas são as postagens dos anônimos. Seres sem rosto, sem codinome e sem autoria, capazes da supremacia da crítica e da temeridade da ação.
    O anônimo critica e se esconde, para além do bem e do mal, pode exercer seu ego nas entrelinhas dos textos dos legítimos narradores, e, assim, mostram-se ignorantes, por vezes a ignorância é uma benção: move mundos, em outras um raro espaço para realizarem suas pulsões. Ahh!!! como são belas as pessoas que não conhecemos.
    Como é bela a arte da metarmorfose irresponsável dos que assinam responsalmente um blog.
    Saberes e sabedores, o que ralmente importa como diz Arandt, é narrar, o resto...é o resto.

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  5. Compreendo o anônimo quando critica e se esconde. A crítica sem argumentação é muito frágil e sabemos que se a crítica é ágil e fácil, a construção da argumentação exige tempo, conhecimento e estudo, e isso não é fácil.
    O narrar implica pensar, construir e produzir saberes, daí que o resto...é o resto.

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  6. Prezado anônimo,
    Ao ler seu comentário fiquei muito triste, senti um vazio. Por você. Tentei entender que tipo de vida tem alguém que pensa que há limites tão estreitos para decidirmos o que somos, o que seremos.
    Se fosse assim, Evandro Mesquita, o músico, não seria o ator que dá vida ao "Paulão", que tanto nos diverte em "A grande família".
    Se fosse assim, teríamos que escolher os inventos ou os quadros de Leonardo da Vinci.
    Se fosse assim, Adriana Falcão não escreveria livros tão deliciosos quanto os filmes que roteiriza.
    Se fosse assim, se fosse assim, se fosse assim...
    E fui pensando, no carro, a caminho da aula de dança flamenca. Cheguei. E qual não foi minha surpresa ao saber que minha competente e talentosa professora acaba de começar seu Doutorado em Geologia.
    Ainda bem que não é assim, anônimo, como você disse. Se dê uma chance se permitindo mais possibilidades. Ao final, tudo terá valido muito mais a pena!
    Dani Sabino

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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