terça-feira, 31 de agosto de 2010
A pedido: casa, casamento e descasamento
A expectativa de que um encontro amoroso seja o início, o meio e o fim – finalidade -das nossas existências, faz com que o término de um relacionamento deixe marcas indeléveis. Não importa o quão satisfeitos estejamos em uma relação, qualquer separação vai atualizar a separação original, fundamental e fundante que experimentamos um dia - daí vem o termo “angústia de separação”. Perceber que a mãe existe além de nós e deseja para além de nós é uma inexorável tragédia. Assim dá para entender por que o afastamento do outro é desproporcional ao sofrimento vivido numa separação, voluntária ou involuntária. Na verdade, o luto é sempre outro e, quando o elaboramos, também é sobre uma perda outra que não esta que acreditamos ser. A sensação é a de ter perdido pai e mãe de uma só vez, quando ainda se é prematuro. É preciso encarar o vazio e o silêncio da casa que foi um dia o palco de promessas onipotentes de completude e suficiência. Vemo-nos regredidos como bebezinhos dependentes dos cuidados do outro para sobreviver. Sentimos que aquele que saiu levou consigo todos os objetos bons – está feliz e credenciado - e que nós ficamos com todos os ruins – estamos tristes e duvidosos. O desconsolo vai e vem. Tentamos, em vão, catalogar pensamentos e sentimentos, numa eterna retroação, mas a veleidade e fluidez com que se apresentam deixa-nos somente aturdidos. Estamos sujeitos a uma bipolaridade reativa. Há momentos de maiores certezas e menos dúvidas, e outros onde a culpa e o arrependimento são os moderadores de tudo. À decisão de se separar estará irremediavelmente alienada a ambivalência entre o conhecido e o desconhecido. Inconstantes, imprevisíveis, instáveis, indefiníveis, incertos, incoerentes... Poderia utilizar mais uns dez adjetivos “ins” para descrever as ideias arbitrárias que culminam num “loop” de emoções daqueles que optam por não mais dividir a mesma casa. Mas, a complexidade da questão é que nem um desses adjetivos ou mesmo todos eles juntos dariam conta de nomear essa “coisa” que dá dentro da gente após uma separação. Como bem disse Guimarães Rosa: “muita coisa importante falta nome”.
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Falou tudo: sentir culpa,arrependimento,sentir-se orfão.Perguntar-se porque aquilo está acontecendo comigo, desde quando? perguntas e mais perguntas.Um dia eu mergulhei de cabeça num casamento, sem precaução,sem equipamento de oxigênio, sem nada.
ResponderExcluirCheguei onde queria, só que nāo havia mais alguém esperando por mim, por muito tempo me perguntei se conseguria voltar.Como diziam nossas māes e avós; calma minha filha,vai passar
Acredito na dificuldade em lidar com uma separação, porque separar significa reorganizar uma vida que, boa ou ruim, já estava impregnada de hábitos, sons, ações e rotinas. Perder isso é, no mínimo, pensar em novas rotinas o que talvez não seja tão difícil, difícil mesmo é reconhecer que a separação não apenas coloca as pessoas em casas diferentes, mas, muitas vezes desnecessariamente, as coloca em lados opostos.
ResponderExcluirPenso que todo e qualquer sentimento resultante das separações é sempre muito dolorido, mas pode ser minimizado se existir lealdade naquele que "decide ir embora" e ele abrir para o outro o "real" motivo da separação. Quando a lealdade e a amizade imperam, o impacto da noticia e o sentimento de quem a recebe pode ser apaziguado pelo carinho que "aquele que deixa" teve por aquele que "é deixado". A dor continuará a existir por um tempo, é natural que isso ocorra, mas "aquele que é deixado" sabe o que está acontecendo, ele não lida com o obscuro.
ResponderExcluirQuando "aquele que é deixado" desconhece os reais motivos, aí então se instala a verdadeira dor proveniente do abandono.
A palavra chave é "lealdade", não sinceridade, mas "lealdade" que é muito maior!
Voce quer se separar? Voce tem o "dever" de dizer ao outro porque tomou essa decisão, e isso antes de contar a qualquer outra pessoa.
Para mim a amizade é a base de toda relação, e se não existe lealdade, tambem não existe amizade...
Duro constatar isso, não é?
É assim que penso e é assim que sinto!