quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Silêncio

Juan Nasio, psicanalista de orientação lacaniana, debruçou-se sobre o tema em seu livro “O Silêncio na Psicanálise”. Nasio consagra um lugar privilegiado ao silêncio, estado cada vez mais raro no mundo contemporâneo. O silêncio não se faz somente na inexistência de ruídos. Segundo o Houaiss, silêncio é a privação, voluntária ou não, de falar, de publicar, de escrever, de pronunciar qualquer palavra ou som, de manifestar os próprios pensamentos. Difícil alcançar este estado, não é? Todos têm acesso a recursos que te incitam a nunca silenciar. O silêncio virou o bem mais precioso que alguém pode almejar, mesmo que não tenha consciência disso. O grande embaraço das nossas questões resume-se, no fim das contas, à impossibilidade de silenciar. Na era vitoriana, quando do primado da associação-livre de Freud, desejava-se o oposto. O nome da técnica de Freud era “talking cure”, isto é, a cura pela fala, pela conversa, por tudo aquilo que a língua pudesse pronunciar. Acreditava-se que aos pensamentos deveria ser dado um destino, um endereçamento. Será que ainda podemos falar desse tipo de repressão nos dias de hoje? Hoje, fala-se pelos cotovelos, fala-se sozinho, fala-se dormindo. O grande filão do mercado são os diversos aparelhos que nos permitem falar. As propagandas são claras: “fale” até mil minutos por tantos reais. A demanda é a de falar, não importa o quê ou para quê; por computadores, celulares, e outros tantos “gadgets” que não conheço.
O problema dos nossos dias, ao contrário daqueles do início do século passado, não estaria, então, na incapacidade de calar? No mundo pós-moderno, na efervescência das falas vazias pode estar alojada a nossa ruína... Algo, como propõe Nasio, a se pensar.

3 comentários:

  1. O silêncio das línguas cansadas é um privilégio de poucos.
    Um abraço demorado

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  2. O problema maior da incansável necessidade de fala é que as pessoas parecem estar perdendo a capacidade de ouvir. É muito cansativo as pessoas tomarem conta da conversa o tempo todo, mas é igualmente cansativo, ficar tentando entrar na conversa ou colocar outros na conversa. Atualmente, quando me vejo em uma situação dessas eu me rendo e ouço, ouço, ouço, sempre com a esperança que a pessoa canse,normalmente quem cansa sou eu.

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  3. Prima! Acho que o problema de pouco ouvir é genético, ou seja, dos "Guedes"!! Falamos muito e ouvimos pouco! Beijos!

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