quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Sutilezas da língua
Sempre achei o inglês britânico lindo, puro, as sílabas bem pronunciadas num ritmo melódico, erudito e elegante. Nos filmes, uma maravilha. Comum suspirar quando se ouve um "today", "can" ou "wait" ditos com os "as" pronunciados no mesmo som do "a" do nosso alfabeto. É lindo o sotaque, remete-nos a Shakespeare, Oscar Wilde, Virginia Wolf. De repente, passa-se a conviver com os ingleses, que não são nem os professores dos programas de intercâmbio e nem uma das famílias que recebem os estudantes. Aí, a coisa muda de figura. Aquela musicalidade toda na pronúncia das palavras torna-se um "nightmare", como costumam repetir os ingleses para se referir a fatos ou pessoas horríveis. Na primeira vez que eles falam contigo e tu não entendes, nem com o contexto dado, a gente lembra daquelas expressões salvadoras que aprendemos ainda no colégio: "pardon?", "sorry?", "could you repeat, please?". Numa postura de humilde educação e simpatia. Isso acontece muito na hora do consumo. De um lado o estrangeiro ávido por aquele objeto, de outro o comerciante convocado a por dinheiro no caixa. Todos sempre se entendem. O bicho pega é quando se está atrasado, nervoso ou com fome; e, aquele mesmo sotaque, outrora lindo, te impede de entender obviedades cotidianas. Aí, sem intenção de ofender, mas num ato de puro desespero a gente fala: "what?" E isso, no reino unido da rainha e seus príncipes, é motivo de desunião. Separa uns dos outros, os educados dos mal-educados. Na hora, dá vontade de mandar o proprietário daquele "accent" para aquele lugar e voltar correndo para casa. Agora, se tu estiveres em boa companhia, pessoas espirituosas, desarmadas e descomplicadas, estes episódios podem render muitas risadas e imprimir na memória um gosto de quero mais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Uma boa companhia tem esse efeito, tornar engraçada ou inesquecível uma situação chata ou desconfortável. Uma boa companhia não tem preço e as situações que vivemos com ela sempre deixam um gosto de quero mais. Rir de si mesmo em episódios que teriam tudo para serem pesados e/ou constrangedores não é muito fácil, mas algumas pessoas - a boa companhia, por exemplo -conseguem fazer isso com muita naturalidade.
ResponderExcluir