sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aeroportos


Descobri que aeroportos exercem um certo fascínio sobre mim. Quando voava, não via a hora de mudar de profissão, mas devo admitir que os períodos em que passava dentro dos aeroportos me agradavam. Algumas vezes, tinha que ficar de reserva no aeroporto, caso precisasse assumir o voo de algum colega que gostava menos de voar do que eu. Quando não acionada para voar, a profissão não me incomodava. Naquela época, todos os voos, com exceção da ponte-aérea, saíam de Cumbica. Aproveitava para ler, tomar café, estudar e observar. Havia uma só livraria, e era lá que passava algumas horas da minha reserva. Já sabia de cor os títulos que oferecia, cheguei a ler, aos poucos, um livro do Veríssimo inteiro, em pé, dentro da loja.
Hoje, não mais comissária de bordo, ainda os aeroportos me alegram. Gosto do cheiro de perfume que exala das lojas duty free, das pernas das pessoas se movimentando para lá e para cá, das bocas se mexendo freneticamente, da atmosfera que se cria em torno das viagens. Fico atenta aos olhos fixados nos displays de informações, aos ouvidos que tentam ter vida própria, para poder escutar os anúncios da mocinha de voz estridente em meio ao burburinho de outras vozes dissonantes. Às vezes, há longas esperas. Gente que faz de conta que lê, que ouve música, que come, que trabalha, que dorme; todas iniciativas vãs para que se distancie o tempo entre o agora e o depois. Vive-se um período de considerável ansiedade até que as rodas do trem de pouso se despreguem da terra e, mais ainda, que toquem a terra de novo.
Acho que entendo o meu fascínio por aeroportos, que é o mesmo de tantos outros que se submetem a passar por tudo isso como se estivessem sob o signo de uma necessidade. A felicidade, no imaginário dos sujeitos neuróticos, está sempre alhures.

4 comentários:

  1. Sabe, também me sinto bem em aeroportos. Aquelas pessoas bem vestidas, umas para o trabalho, outras tipicamente trajadas para o turismo na expectativa do que acontecerá no destino escolhido. Os funcionários das empresas aéreas com seus uniformes coloridos dão um certo toque especial ao ambiente. Homens e mulheres interessantes são rotina no local.
    Por outro lado sempre que estamos por lá, temos a expectativa do que virá daqui a algumas horas: ou estamos prestes a encontrar ou se despedir de alguém que nos é especial.

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  2. Eu tenho esse fascínio desde criança, porque morava no bairro ao lado do Aeropoto de Porto Alegre, sempre amei o barulho das turbinas. consegui voar e sempre que me preparava no quarto do Hotel para assumir algum voo, acordava feliz, cantando.
    colocava meu super walkmen amarelo e ficava em frente ao espelho sentindo me a pessoa mais feliz do mundo. Amo Aeroportos até hoje, embora o glamour tenha desaparecido.Lembro de acompanhar você minha cara amiga,num domingo de carnaval a uma reserva de Aeroporto, só para ter o prazer de tomar um café no Aeroporto e observar as pessoas.Em Breve essa rotina estará de volta à minha vida.só que agora sem sonhos juvenis... beijos

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  3. Oi

    Onde anda você???? sem inspiração???

    bjs

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  4. Prima como escreves bem. Parabéns. Beijos.

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