quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Foucault e liberdade


Na percepção do filósofo francês, liberdade está para autonomia, assim como escravidão está para dependência. Foucault, o mais contemporâneo dos filósofos, defende a ideia de que para sermos livres é preciso que saibamos cuidar de nós mesmos. O que vem a ser cuidar de si? A exemplo dos estóicos, cuidar de si é cultivar-se, é atender às necessidades do corpo, da mente e do espírito, sem incumbir o outro desse trabalho. Desde o nosso nascimento sabemos que é precisamente o outro quem nos possibilita a sobrevivência e o desenvolvimento. Até aqui tudo bem. Depois, esses cuidados são transpostos para as instituições, escolas, exércitos, igrejas, presídios, hospitais, que passam a ser responsáveis pela nossa manutenção no mundo. Vivemos sob a égide do paternalismo, exigimos cada vez mais que alguém cuide de nós. Esse modo de existir, parece à primeira vista, cômodo, prático e fácil. É assim que nos tornamos presos e presas. As psicoterapias cumprem bem esse papel ao tentar tomar as rédeas da vida do cliente, oferecendo-lhe colo e apoio. É simples culpar pai e mãe, chefes, governantes por tudo aquilo que nos contraria e nos frustra. Não gostamos de ser implicados em nossas escolhas e às repercussões que delas advêm. Concordo que é pesado e árduo tomar para si a responsabilidade sobre o nosso bem ou mal-estar. Foucault complementa dizendo que o ato de cuidar de si é o que nos habilitará a cuidar de um outro, na verdade, a ensinar ao outro como se cuidar. Assim deveria ser o sentido e a intenção de educar. Os métodos educacionais tradicionais fazem exatamente o oposto, bem como outras formas de inserção na sociedade contemporânea. Nossos jovens aprendem desde cedo a esperar do outro respostas para suas demandas e a culpá-lo pela falta de conquistas materiais e intelectuais. Não se importar com os porquês do que acontece a nossa volta é a forma mais cabal de se alienar dos cuidados consigo mesmo. As relações afetivas são o alvo mais certeiro desse tipo de isenção. A culpa é sempre do outro. Difícil sustentar a lâmina que fará o corte no vício da dependência. A decisão pela emancipação é solitária, sacrificada e ruidosa, mas acomodar-se no balanço instável do colinho sedutoramente macio e morno do outro levará, indubitavelmente, ao pior.

4 comentários:

  1. As nossas escolhas por mais absurdas que parecam são baseadas em nossas necessidades internas, mantenha seus sonhos em alta e encontre dentro de você a razão dessas necessidades...assuma responsabilidades que vem através das tuas escolhas...só assim serás livre, so assim serás feliz.

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  2. Reconhecer-se como fruto de suas escolhas e pagar o preço por elas é uma característica de maturidade que nem todos alcançam. Em política, por exemplo, é típico daqueles que se dizem "pais" do povo. Ao sentir-se "filho", o cidadão não atenta para suas obrigações, pensando apenas nos direitos que supostamente possui, infantilizando-se. Nem entro no mérito das religiões, pois tenho medo de sofrer um atentado se disser o que penso. Papai-do-céu que me perdoe...

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  3. A última frase diz tudo, mas adoramos um auto-engano.

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  4. Maravilhoso seu texto !! Procurei vàrios e encontrei exatamente o que procurava aqui!Parabens!!

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