segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Refúgio - Dir. François Ozon (França, 2009)


Título original homólogo ao adaptado - “Le Refuge”. É um filme superior, assim como “Cinco vezes amor”, mas nesse Ozon foi mais longe. Conseguiu reunir em torno do mesmo tema: a dor do vazio de existir versus hedonismo em sua plenitude - por tempo limitado, é claro -; mentes enfermas; a fragilidade e os descaminhos dos vínculos afetivos; a falta de signos de amor que possam fazer barreira ao terreno pantanoso que rege o desejo da maternidade e da paternidade.
Filme maduro e corajoso na abordagem de temas humanos, “demasiadamente humanos”. Previsível onde não há alternativa melhor e imprevisível naquilo que tange o fascínio apaixonado do diretor para compor e contar esse drama. Ozon tenta nada deixar passar, tanto que o filme parece mais longo do que na verdade é. Os diálogos são prosaicos, frios, sem afetação teatral, mas nenhum seria dispensável - às vezes cálidos e ternos, noutras sofridos e tensos. A fotografia é bela - o filme se passa em um lugar bucólico entre o verde do mato e o colorido das flores e a imensidão do mar.
Ela é linda; densa, sombria, opaca e sóbria, apesar de viciada em heroína. Ele é ainda mais lindo; doce, leve, versátil, mas complexo.
O filme é uma experiência feliz. Não dê ouvidos à pobreza da sinopse. Quem gosta de simplicidade e concisão, verá no filme o que foi dito até aqui. Quem prefere ir sempre um pouquinho além, mesmo que isso custe algumas rugas na testa, o filme trata de forma crua, nua e desiludida de redenção, naquilo que pode representar de bom e de ruim.

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