sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quando a gente não se despede

Flutuamos involuntários dentro de um labirinto escuro e sufocante toda vez que a gente não se despede. Queremos achar a saída, pisar em terra firme. Sabemos que temos que dobrar à direita, mas uma força qualquer te empurra para a esquerda. Gritamos que a saída não é para lá, mas essa espessa força movediça te leva para aqueles lados. Quando não há despedida o amor fica à deriva, perde o prumo, não vai para o sul nem para o norte, vai roubando teu sono como um desalmado zumbi para depois devolvê-lo durante o dia diante de um vil senhor do engenho. O amor desalinhado não encontra mais o destinatário e retorna em desatino ao coração do remetente, que tonto de dor não sabe o que fazer com ele. A boca da gente não para de se repetir, alienada coitada, tem esperanças de que falar pelos cotovelos irá transformar a dilacerante ausência em um pinguinho de presença. Choramos para que a aguaceira lave as imagens últimas, derradeiras, e que regue as lembranças felizes. Vivemos para que a mente irrigue-se de pensamentos outros e para que as memórias doentes curem-se e aconcheguem-se, delicadas e coloridas como uma bolha de sabão, mornas e macias como o corpo do meu cão.

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