sábado, 2 de abril de 2011

Rédea na rede


Há uns meses acabei aderindo à sugestão de alguns amigos, que me cobravam o ingresso no Face Book. Aderi. Faço parte. Tenho amigos virtuais. Para um neófito, confesso que fiquei entusiasmada ao ver as caras que iam surgindo a cada clique no mouse. Quem tem seu perfil no Face Book sabe disso. Você fica voraz para ver e ser visto. Você quer que aqueles que acessem a sua página, saibam quem você é. Na rede, dá para defender causas importantes de minorias esmagadas, participar de discussões metafísicas, tomar partido, rever os “exes” de sua vida – desde ex-namorados até ex-professores -, bisbilhotar fotografias alheais, saber quem foi com quem e onde, assistir às postagens do “youtube” sem precisar ir até lá, colar frases de efeito de grandes autores, enfim, um universo de possibilidades se abre sob seus olhos. A coisa pode te deixar numa compulsão sem fronteira. É bem capaz que você abra aquela página uma dezena de vezes ao dia, ou melhor, a cada vez que tiver um computador dando sopa. E a cada entrada a página vai te hipnotizar, tal qual um relógio de bolso a balançar. Fiquei neste estado. Até conversar no "chat" com três pessoas ao mesmo tempo eu consegui. Passado algum tempo, a coisa foi esfriando. Uma outra percepção se afigurou, bem distante da inicial. A tal da página se traduziu para mim em um exercício narcísico descomunal: você quer exibir o quanto você é legal, “cool”, despreconceituoso, interessado em eventos de gente bacana, inteligente, quantos idiomas você fala, quem são seus “amigos”, de qual tribo você faz parte, para onde você viaja, que pensamentos você compartilha, quais idéias você persegue. O mundo precisa saber quais são os signos que você acredita que melhor te representam. Não basta alguns saberem, é preciso partilhar com o maior número de pessoas. Sei dizer que com a mesma rapidez que veio o fascínio, veio o tédio. O brinquedo perdeu a graça. Importante ressaltar que não critico nem o FB nem seus usuários. Ao contrário, gostaria de ter conseguido manter o entusiasmo. Ainda abro de vez em quando a página quando estou na maior solidão e dou uma espiadela nas fotos de alguns amigos. Coisa rápida e fácil. Mas não tenho mais interesse em conhecer os interesses de meus amigos. Fora, que são tantas as novidades que pipocam na tela que, mesmo que estivesse ainda apaixonada pelo negócio, não teria como estar em dia com ele. Reencontrei sim amigos, conheci sim amigos de amigos, descobri psicanalistas sérios que dividem suas pérolas com os colegas, fiquei sabendo de eventos, inscrevi-me num laboratório de psicanálise; oportunidades e mais oportunidades. No entanto, mesmo me rendendo às benesses do FB, resta a interrogação: com o fluente atualizar e consumir a enxurrada de fatos e fotos, opiniões, conhecimentos picados, amizades voláteis, teorias em mosaico, afetos escorregadios, crenças mancas, não corremos o risco de trocar “um” bem amado, bem sabido, bem pensado de qualquer categoria e cair nas garras da sedução da quantidade?

Um comentário:

  1. Confesso que viciei no FB, uma verdadeira praga, que tira o sono.
    tem gente que esta la e nunca falei, alguns ate apaguei e a pessoa nem notou, pq eu era apenas mais uma. estou tentando controlar o vicio. bj Ane

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