sábado, 2 de outubro de 2010
Casamento entre seres de espécies diferentes
Ela, jovem, linda, esbelta, cabelos loiros acinzentados. Ele, igualmente belo, esbelto, já não tão jovem, mas exibindo uma cabeleira negra digna de nota. Ela esperando ansiosa pelo encontro com aquele que dividirá o ninho de amor que vem construindo zelosamente dia após dia. Ele, nem em devaneios sonhava com isso, pois para ele a vida que levava estava boa demais. Mas não teve saída. Alguns amigos bem intencionados decidiram dar uma forcinha e aproximar o casal. Hoje em dia, está difícil conhecer parceiros contando apenas com os auspícios da natureza. Ela não se agüentava de tanta felicidade. Fazia alguns dias que o seu humor oscilava entre angústia e euforia, preparando-se para a chegada dele. Dava a impressão que estava mais bonita, mais viçosa e vistosa. Passava horas inquieta, indo de um lado para o outro, cantando nervosamente, simplesmente para disfarçar seu estado. Ele, como já disse, estava na dele, curtindo sua vida de solteiro. Sem grandes emoções, estava vivendo tranquilo e em paz com a sua natureza. Cantava para passar o tempo, alegrava-se com o irrisório fato de estar vivo. Distraía-se comendo comidinhas gostosas, bebendo água fresca, pois não era adepto às bebidas alcoólicas. Levava o dia a exibir-se para todas aquelas que estivessem disponíveis e, claro, que ele achasse interessante, mas sem comprometimento maior. Até o dia de hoje...
O encontro se deu. Ela, histérica, chegou a dar uns gritinhos de excitação quando o viu. Ele, meio apavorado, mas tentando disfarçar, cantava agora de nervoso. Esses sentimentos incoercíveis prevaleceram no primeiro momento. Um tentando fazer a corte ao outro, num misto de estranheza e constrangimento. Porém, em não muito tempo os dois já haviam mudado seus comportamentos: ambos se calaram, quase nem se olhavam mais. Não existia mais a excitação de outrora. Os movimentos frenéticos de lá prá cá, assovios e cantos, de alegria ou nervoso, desvaneceram-se. O encanto se foi, na mesma velocidade de um supersônico. Coisa natural da vida. Mas não pensem que isto se deu por que ela é uma canária belga e ele um pintassilgo. Não, não é isso. Todo esse imbróglio é indiscutivelmente por que ela é uma fêmea e ele um macho.
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Sempre um encontro entre um homem e uma mulher vai deixar espaço para o mal entendido, o que no final das contas se refletirá em frustração para um ou outro, ou ainda para os dois.
ResponderExcluirGostei do texto, engraçado.
ResponderExcluirNossa!!! Como somos antropocêntricos, com esse olhar voltado pra dentro e cheios de esperanças e (des)esperanças. O que há de se fazer não?!
ResponderExcluirOuvir os passarinhos.